É assim que a minha malta resolveu chamar à festa que vamos fazer no sábado para nos despedirmos das instalações onde a minha querida USL está há muitos, muitos anos.
Se aquelas paredes falassem, diriam que ali houve muitas reuniões, muito trabalho, muito empenho, muitas bandeiras e cartazes e panos e pendões.
Diriam que se viveram ali muitas alegrias,a alegria de um Primeiro de Maio que correu tal qual esperavámos ou que aquele plenário naquela empresa esteve à pinha e que os trabalhadores estão mesmo decididos a lutar por aquilo a que têm direito. A alegria de mais um bebé de uma colega que aí vinha, um aniversário, uma festa de Natal, uma noitada a fazer pastas para o Congresso, um pano pintado nos corredores imensos!
Diriam ainda que também houve tristezas, o familiar de alguém que partiu, uma luta menos conseguida, uma discussão feia, um mal entendido!
Mas aquelas paredes, naquele prédio no Bairro Alto, não mentiriam se dissessem que quem por ali passou nunca deixou nem deixará de acreditar que é possível construir um mundo melhor para todos e, isso só se conseguirá, com a união de todos os que trabalham e que acreditam que o poder social tem que ter prioridade sobre o poder financeiro.
Pela minha parte, tenho muita pena que o desenfreado interesse imobiliário e os cifrões nos olhos do proprietário do edíficio nos obrigue a sair dali.
Apesar de não exercer as minhas funções ali há cerca de 5 anos, aquela será sempre a minha casa. A casa onde aprendi a ser o que sou e onde aprendi a trabalhar.
Quando de lá saí, para "experimentar" outro tipo de trabalho, escrevi isto aos meus colegas que lá ficaram:
«Prestes a sair...
...de um sítio onde fui muito feliz!
Onde cresci!
Onde fiz amigos que são para a vida!
Onde aprendi que devemos lutar, sem medo, por aquilo em que acreditamos!
Aprendi que quem "mexe" com o país são os trabalhadores e é neles que reside a maior força que conheço!
Aprendi que a solidariedade não é, mesmo, uma palavra vã!
Aprendi que a União faz a força. Aprendi que é possível, conseguir essa União, no meio da diferença!
Aprendi que faz bem trabalhar com pessoas que pensam de forma diferente de nós!
Aprendi que o trabalho é central na vida das pessoas; que o trabalho tem mais do que a dimensão profissional!
Aqui, aprendi a trabalhar, e agora vou para outro lado, e espero ser tão feliz como fui aqui!»
Amanhã, despeço-me daquela casa.
Bem podem tirar-me daquela casa mas nunca conseguirão tirar aquela casa de mim!